Indústria da seca: até quando?

             Os longos períodos de estiagens continuam a ser para as populações que residem no semiárido nordestino um problema crônico, que invade os gabinetes dos gestores públicos do nosso País, que não hes toca a consciência, nem lhes desperta a vontade política de querer encontrar soluções permanentes para o problema social deflagrado por esse fenômeno climático cíclico e previsível.
As secas não podem ser encaradas como uma questão circunstancial, mas sim estrutural. Torna-se necessário que durante esses períodos, nos quais as condições de vida do camponês se agravam de forma aguda, haja possibilidade de que a água seja disponibilizada de forma a garantir a sobrevivência humana e animal, como também o desenvolvimento de atividades econômicas rentáveis permanentes, não apenas emergenciais.
Geralmente passa-se a idéia de que tudo é culpa da natureza, do atraso e do subdesenvolvimento no Nordeste. Os poderes federal, estadual e municipal nunca aparecem como verdadeiros responsáveis pela continuação da indústria da seca, pelo empobrecimento social, cultural e educacional de uma considerável parcela da população nordestina, atuando mediocremente em situações momentâneas.
Em 1877, quando o Nordeste foi atingido por uma seca implacável, o então imperador Dom Pedro II, anunciou que venderia o ultimo brilhante de sua coroa para abrandar a fome na região. Esse é apenas um dos vários exemplos de falsas promessas de nossas autoridades, que, historicamente, jamais foram e nem serão executadas. O camponês nordestino não pode continuar esperando por medidas paliativas. Faz-se necessárias e urgentes ações concretas e permanentes.
Desde as primeiras manifestações do fenômeno, as medidas adotadas são somente de caráter emergencial, servindo, sobretudo para agravar mais ainda o quadro na região, e é claro, motivando a tradicional maneira de atuar na “solução” da problemática, manuseada por diversos níveis do poder público, em particular em anos de eleição. Pouco se fala das águas subterrâneas pouco utilizadas; dos grandes açudes que só irrigam os latifúndios; da concentração da terra e do descompromisso dos governos com concretização da reforma agrária; dos grandes projetos que expulsam os camponeses do meio rural e desintegram famílias e da migração forçada de pais de família para outros Estados, muitas vezes sendo obrigados a desenvolver atividades análogas a trabalho escravo.
Em reunião com os governadores do Nordeste, no último dia 23/04 em Aracaju, a presidente Dilma Rousseff, anunciou a concessão de crédito para garantir seguro a pequenos produtores, expansão da rede de abastecimento de água, antecipação dos recursos do programa Água para Todos e recuperação de poços artesianos, entre outras medidas. No total, entre liberação de créditos e linhas especiais, os investimentos somam cerca de R$ 2,7 bilhões, segundo o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra. Porém, vale ressaltar que não há uma data prevista para a liberação destes recursos. Até lá, os camponeses devem ficar em casa de braços cruzados, vendo a família passando necessidades e os animais morrendo de fome e sede? Que ações concretas serão desenvolvidas pelos poderes estaduais e municipais?
Acreditamos piamente que estes não irão colocar a polícia na rua para reprimir as manifestações dos camponeses que continuarão reivindicando e exigindo seus direitos. Até hoje, a seca nunca foi tratada como um problema que fosse capaz de ser resolvido, sendo que está mais do na hora dos gestores publicos adotarem uma nova postura, com novas práticas frente a esse contexto, buscando ações descentralizadas e desburocratizadas, levando em consideração a participação popular e da sociedade civil organizada, não apenas criando mais uma “bolsa”, sendo a da vez “Bolsa Estiagem"
                                                                                                                                          Lia Lima
Secretária executiva da CPT Ceará

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